20 abril 2009


28 de novembro
Gangrena Diário ed. 3 O Show
Bom dia pra quem é de bom dia, boa noite pra quem é de boa noite.
Bom não tem jeito, relutei pra escrever essa coluna mas não dá, o coração fala mais alto, e nos deixamos levar e aí já viu, nós falamos e falamos muito.
Mas você deve estar se perguntando o por que dessa introdução, e qual razão que parece que eu estou meio que sem parada e meio agitado nessa semana,e explico. Essa agitação começou a pelo menos uns 12 anos passados.
Doze anos anos atrás, deixa eu fazer a conta, Tinha dezesseis anos. Eu e o João Roberto*, além de estarmos na flor da idade, tinhamos todos os problemas do coração de adolescente. Eu não fazia muito sucesso com as mulheres, afinal eu era possuidor de uma armadura de ferro que meus aparelhos ortodônticos deixavam transbordar pela minha cara adentro. Tinha várias espinhas e espinhas, parecia que realmente era uma espinha e um rosto acessório, e pra piorar meus quatro graus de miopia no olho direito e quatro e meio( é leitor estarrecido, eu lembro até do meio grau que tinha, mesmo porque todas as coisas pavorosas em nós que fazem você querer arrancar sua cara à lixadas deixam profundas marcas na sua alma), no olho esquerdo, me davam um ar de telescópio.
Mas como se não fosse tudo de bom e melhor, eu ainda era um péssimo jogador de futebol, o esporte que reune multidões mas segrega os jovens que não tem habilidade, e quando se é aolescente, se você não joga bola, você é categoricamente taxado de não malandro e como resultado, o otário mais feio de todos. E isso te faz ter ódio de futebol e achar que esse jogo é o mais idiota de todos, mas aí você conhece o Pelé e você que é realmente divino joga-lo, mas pra alcançar o paraíso, Satanás está sempre te convidando antes pra uma pequena volta.
Bom somando tudo isso, eu não via mais nada de bom nessa vida, não havia presente que resolvesse, nem elogios pelas notas boas que me fizessem entender que eu não era um lixo em forma anatômicamente mal disposta. Nada que você me dissesse naquela época faria entender que somos mais do que apenas essa imagem residual que temos, esse invólucro que não te valoriza em nada. Nem o maior dos milagres me faria entender que realmente o que conta é o que você é e é capaz de fazer, as teu bom coração, tua limpa alma é que dão a beleza necessária, que de nada adianta essa cara de Brad Pitt, se você é realmente um ogro como ser humano. Mas vocês todos que passaram pela evolução fisiológica normal na área da pediatria, sabem, vai convencer a gente adolescente resistente e revoltante, apelante de todas as facções de descontentamento que isso é verdade.
Mas aí conheci o Bahia e o Washington, caras que eram tão feios quanto eu e que eram tão deslocados como eu. Caras que viviam no mesmo patamar de desorientação e desassossego. Pessoas que a sociedade hipócrita do interior, relega por não terem nomes na coluna social e não pertencerem ao Rotary Club, caras que vivem a margem por não terem pais famosos, para o padrão daquela sociedade mesquinha e burra que vive escondida atrás de uma colunista social que faz média com as pessoas que convém, que acha que jornalismo é mostrar o casamento dos filhos do rotary, que a best of the best é saber que a filhinha modernet da mais famosa socialyte está com um sorriso descolado na foto de uma seção que se chama Psiu. E aí você demora toda a adolescência pra decobrir que a socialyte é a mais devassa, que chifra o maridão médico famoso, que os filhos são uns puta drogados, e que a filha gosta de ser currada por todo os sócios do club badalado da sociedade, mas aí meu irmão você já está danificado com essa hipocrisia. E aí se vira.
Bom, mas esses dois caras aí, me mostraram um lugar aonde eu poderia me livrar de todas essas nóias e de todas essas revoltas, um lugar mágico, aonde as cores eram mais vivas e eu me sentia mais bonito, mais poderoso e mais forte. Um lugar aonde eu poderia fazer sexo com a mais bonita de todas, e ser o cara mais desejado da cidade. Era embaixo de uma ponte suja perto da minha casa.
É querido leitor, era lá embaixo de uma ponte aonde rolavam as maiores teoria de conquista do mundo pra mim, lugar aonde eu era o mais foda, e as minhas amigas Maria Joana, Cola de Sapata, me ajudavam a dar mais vida pra uma semi vida, uma completo brilho em alguém apagado. Elas me libertaram. Pra quê? e pra onde? Isso foi a parte mais pesada de todas.
Um dia dia de sol em 1993, mais precisamente em 20 de setembro. estava eu e as minhas amigas estavámos todos lá, mais algo se perdeu, Maria com ciúmes de Cola, e disputavam pra ver quem seria a dona do meu corpo por mais tempo, duas amantes ciumentas me deixavam sem fôlego por mais beijos, por mais carícias que me faziam ver estrelas mais facilmente, o vinho que levei para aquela tarde de amor entre três, me deixava mais afim de te-las por perto, de provar mais teus beijos e de saber quais seriam as melhores carícias. Beijos quentes, sexo feroz, quando se ama no fio da navalha, você corta seu pé. E foi assim que descobri o que se chama desmaiar por ingestão de substãncias ilícitas. Como é ver aquela luz no fim do túnel, mas a luz em questão era luz negra. daonde viriam todas aquelas vozes, pra onde eu estava indo. Perguntas sem refrão, agora a razão da fisiologia era maior. Agora a dor não existia, como também não existia a vida. Tudo era um apagão só.
Mas, como sempre caro leitor tem sempre um mas a mais, eu fui salvo por alguém que me disse no fundo do cérebro, não é tua hora e acorda, levanta e deixa de ser babaca, seja apenas você, lute e viva a vida pois esse é teu maior presente. E essas palavras vieram junto com uma letra de música que estava passando no meu walkman e ouvi no momento em que voltei do limbo, no momento emque meu grilo falante me bateu na cara.
A música em questão era Alive do Pearl Jam, e a letra fala sobre isso mesmo, apesar de ser uma relação incestuosa, fala sobre sobreviver as piores coisas, e apesar de tudo continuar, viver enfim " still alive". Raios e trovões, tinha descoberto o ritual de passagem daquilo que era um esboço para aquilo que seria meu desenho final. Descobri que poderia ser melhor e vivo, graças a mim e a essa banda, que por acaso vai tocar nesta sexta feira e sábado em São Paulo. Esses caras além de tudo que se fala sobre eles, que são apoiadores de causas humanitárias, que vivem fazendo o bem para um monte de gente, que sabotam a própria carreira por causa dos fans, eles escrevem coisas lindas, tocantes, que todo mundo sente ou já sentiu alguma vez na vida, letras com Black, Corduroy, Present Tense, Garden, I am mine, Love Boat Captain, Smile, Faithfull, Wishlist, é lógico Alive. Esses caras emocionam, são possuidores de um dom que talvez apenas o Bono Voz também tenha, que é de cativar você sem você ter nunca visto seus rostos ao vivo. São demais esses caras, eles salvaram a minha vida.
Por isso eu vou, ve-los, vou lá cantar, pular, me emocionar, e um dia poder dizer aos meus filhos que o pai deles teve o dia mais feliz da vida quando viu a melhor banda do mundo ao vivo.
Cuidem-se.......bom show pra quem vai.

** João Roberto, personagem da música Dezesseis, da Legão Urbana.

Escrito ouvindo (e me preparando pro show de sexta), o show do Pearl Jam realizado no Canadá dia 01/09/2005 The Gorge.

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