17 maio 2009

GD 43......DOMINGO FRIO, BRILHOS ETERNOS......ATORES SEM TRABALHO



Escrever sobre um disco às vezes se torna pessoal demais, a medida que vai entendo-se o que aquela voz que sai do alto-falante está dizendo. Coisas que pareciam comuns demais tornam-se montros com inúmeras cabeças e sempre voltam as entreter seu sistema límbico durnate o sono, algumas vezes com prazer, outras com a mais agonizante dor. Ou quando a crueldade é a maior de todas, a loucura vem disfarçada na mais aterrorizante doçura do mundo.
E é assim que você se sente ao ouvir o novo disco de ST.VINCENT, Actor lançado esse mês. Que inicialmente você pode até confundir com um clone de alguma sobra de estúdio da fase White Chalk da PJ Harvey. Mas está muito longe disso.
Annie Clark, texana, começou tudo há dois anos atrás lançando Marry Me, esse disco aqui: , que tinha Paris It´s Burning, entre muitas outras coisas boas. Mas nesse novo disco as coisas se tornaram um pouco claustrofóbicas, por assim dizer.
Esqueça o clima de cantoras mais pop como Lily Allen ou Kate Nash. Annie Clarke está muito longe dessa categoria, se encaixando em uma cantora de banda como o Flaming Lips por exemplo. Sua voz baixa e doce, que se encaixaria em qualquer menina que mora na casa dos pais e tem uma educação religiosa, esconde uma gama de paranóias e esquizofrenias que fariam qualquer psicanalista entrar em paranóia. O disco todo tem um clima de desenho animado da Disney anos 50 misturado com O Massacre da Serra Elétrica, muito disso pela interpretação dela em versos como " I think I love you, I thinnk I´m mad....." ( Actor Out of Work) ou pela massiva mistura de ritmos eletrônicos com instrumentos padrões como flautas, violões, violinos entre outros. E segue nesse clima, mas sem cair numa armadilha repetitiva. A beatleniana Black Rainbow, mostra que St. Vincent sabe como dosar influências sem parecer uma mera cópia.
Mas talvez o mais interessante nesse disco todo é perceber que Annie parece cantar seu desespero de uma forma contida e emocionada, tirando o fôlego do ouvinte e o fazendo percorrer todas as cores de sua loucura. O turbilhão de emoções explode nas nossas caras como na canção The Bed. Sorrisos, lágrimas, esperança e desespero, tudo em apenas 3 minutos.
Não é pop fácil nem de longe, mas não é um disco apenas para eruditos. Actor viaja muito bem entre as duas praias, mostrando que existe sim muita beleza no cinza. A voz da cantora permanece suave, esteja ela falando das ansiedades de um relacionamento, ou sobre pânico. Sons robóticos ou verdadeiras composições orquestradas com uma levada roqueira garantem a variação de estilos e uma muito poderosa mescla de emoções à serem sentidas da primeira à última nota.
Compre e ouça num domingo de frio quando o sol se debate por entre as nuvens cinzas e os raios dão aquela esquentadinha de leve na sua pele..........