04 agosto 2009

GD 54....A SAGA DOS DISCOS ESQUECIDOS CAPÍTULO III

Após longas conferências com as vozes de dentro de minha cabeça, depois de procurar um cachorro para que eu, após escrever esse post pudesse colocar minha cabeça dentro dele e desaparecer, decidi. Esse seria o disco que iríamos desesquecer. E não adianta reclamar, postar nos comentários que esse blog virou balada trash.
O ano era 1990, e o mundo estava saindo de uma política pop ditada pelos cabeludos que supostamente tocavam rock. Nomes como Poison, Nixon, Bon Jovi eram figurinhas carimbadas em qualquer FM de rock. Tudo bem que em 1990 o Happy Mondays lançou aquele primeiro disco fantástico ( Pills`N´Thrills and Bellyheaches ), Pixies tinha saído com Bossanova, Black Crowes lançou a carreira com o sensacional Shake Your Money Maker. Ainda teve o Violator do Depeche Mode, e as pistas alternativas foram tomadas de assalto pelo Deeee Lite. O Edir Macedo tinha comprado a Record e o Mandela estava solto.......Mas o fino da bossa do mundo rock alternativo era coisa ainda que era consumida por um pedaço da população extremamente pequeno. Não que hoje tenha mudado muito, mas a internet ainda era um feto em formação, não era nem de longe o monstro verde que viria a ser. E por isso quem morava longe dos grandes centros, não tinha muita escolha. Ou era I´ll be there for you e um vidro de cianureto ou você tinha que esperar seu PC chegar com o coelho da Páscoa........
Nesse contexto de vida que saiu em 1990 esse disco. E não tem como não classifica-lo pelo maior pecado que ele comete. Ser pop demais. É cheio de hits de FM grudentos com refrões que hoje em dia fazem a alegria dos balzaquianos melindrantes do movimento trash. Mas antes que você ache que este que vos escreve tomou uma quantidade inimaginável de LSD, atenha-se à esses dois pequenos detalhes: um disco que catapulta uma rádio ao patamar de referência dentro do mundo pop e que aos olhares mais atentos trazia tendências que dez anos depois virariam "muderninho" não pode ser apenas produto pop descartável, mesmo que os realizadores tenham se esforçado para que isso fosse verdade.
Hack do Information Society. Sim meus apavorados transeuntes, esse disco tem pérolas escondidas, e sinto muito dizer que esse seu nariz torcido vai concordar. Vamos aos fatos:
O disco começa com Seek 200, uma ambientação mezzo industrial, mezzo mussarela com gritos e samplers que não acabavam mais. Vamos lembrar que nesse tempo se você dissesse a palavra Napster por aí provavelmente iriam achar que você estava resfriado, e vamos lembrar que Trent Razor estava começando e apenas Pretty Hate Machine havia sido lançado. E Head Like a Hole (eu já volto a falar da ligação entre Trent Razor e o IS já já.....), não iria tocar nas rádios que promoviam o que era empurrado pela goela abaixo dos ouvintes, então esse som era estranho para as massas. Mesmo que dois anos antes em 1988 o Depeche Mode tenha lançado Music For The Masses, aonde desistia dos samplers e começava a usar sintetizadores analógicos. Vale ainda lembrar que a praia do Depeche Mode eram músicas completas, ainda que o mercado brasileiro insistia em colocar a banda nas coletâneas de discos de casas noturnas. Então o trabalho dos caras do IS foi deixar esses sons mais democráticos, e nisso eles foram especialistas.....porque as músicas deles já eram remixes, não precisava mexer muito.........E a produção de Fred Maher (o cara que produziu New York do Lou Reed), ajudava muito nisso.
E aí é que começa o pecado pop do disco, How Long e Think são pesadelos pop de qualquer indie que se preze. As músicas foram exauridas no quesito audição. E chegaram ao top 30 americano tão rápido quanto sairam. Aqui no Brasil, elas estavam em qualquer festa, nas paradas de sucessos das seis horas da tarde de qualquer FM. E elas são isso que são, chicletes com recheio bacana, mas que com o tempo perdem o sabor, mas nem por isso você vai falar mal do ploquismo dessas duas canções. Elas catalputaram a rádio Jovem Pan ao patamar de rádio mais ouvida por todos os cantos, e sim você pode até torcer o nariz, mas é inegável que os caras conseguiram apenas misturando sons de máquina. Nesse tempo de Hack, o Fatboy Slim ainda tocava no Pizzaman. E basta você ouvir A Knife and a Fork, Now That I Have You ou Hack 1 (faixa com um suingue funkeado inegável), para perceber que eles estavam pelo menos seis anos antecipados ao que surgiu com On the Floor at The Bottique ou em You´ve Come a Long Away, Baby. Você duvida, então dá uma olhada no sampler de Now That I Have You na hora do solo, e depois escuta The Rockafella Skank.......tá tudo lá. E você lembra lá em cima da ligação perigosa entre o Trent Razor e o IS ?????? Pois bem escute Hard Currency e Head Like a Hole, e você verá que essas duas faixas são separadas ao nascer. A do NIN é a irmã mais velha. E aí nem adianta gritar, você vai dizer para mim que a maioria das bandas indie de hoje em dia não fazem a mesma coisa? Regurgitam sons do passado com maestria. O Information Society apenas estava com pressa.........
Mas eles não apenas anteciparam os sons de lotar as pistas, o Insoc se antecipou à Tom Yorke (posso esperar umas bombas na minha casa né???? hahahahaha). Pois não se irrite sunita leitor, eu explico. Se você não foi ao show do Radiohead eu te conto. Antes da música The National Anthem, os caras do Radiohead colocaram no ar a programação de algumas rádios brasileiras. Eles sintonizavam aleatoriamente e deixavam rolar o que estivesse passando nas rádios. Pois bem escuta essa música aqui e espere o fim dela...........









Pois bem, agora veja lá......






Não estou dizendo que a música é melhor, mesmo porque Radiohead é genial demais, mas que estava tudo lá no disco dos caras dezenove anos atrás, isso estava.
O disco tem músicas desnecessárias também. Can´t Slow Down, Move Out, Sleeping Away ( que chega a ser pior que I´ll be there for you do Bon Jovi) e Chemistry são provas de que eles erravam e muito, mas não dá pra escutar If Only ( com o sampler da escapada do Jerry do desenho e seus shob pa pa birus....) ou Fire Tonight com a sua tendência de carrossel eletrônico, e não achar que eles tinham pelo menos um pouco de talento (pelo menos mais que o Latino hahahahahha).
O disco vendeu como remédio para gripe suína aqui no Brasil, músicas em trilhas de novela e tudo mais. Na gringa eles explodiram tanto que depois desapareceram. Nada mais que a banda fez conseguiu fazer o mesmo estrago desse disco. Hoje eles vivem de turnês caça-níqueis como a que vem ao Brasil esse ano. O vocalista que no fim dos anos 80, começo dos 90 era o nerd sexy-symbol, hoje ostenta uma pança de dar inveja ao Fausto Silva. O Information Society era uma banda descartável como a história mostrou depois. Mas qual o problema?????? Já pensou como seria a vida sem Ploc????
No mínimo uma chatice caetanesca sem fim...............
(agora com licença que eu preciso escutar Dead Kennedy´s..........)


HACK
INFORMATION SOCIETY

FICHA:

Produção: Fred Maher, InSoc e Kevin Laffey
Mixagem: Bob Rosa, Fred Maher e Paul Robb
Músicas: Paul Robb, Kurt Harland e Fred Maher
Vocais: Kurt Harland e James Cassidy
Backing Vocals: Nocera e India
Midi: InSoc e Think Tank

MÚSICAS:
01.0. SEEK 200
02.0. HOW LONG
03.0. THINK
03.1. WENN WELLEN SCHWINGEN
04.0. A KNIFE AND A FORK
04.1. R.I.P.
05.0. NOW THAT I HAVE YOU
06.0. FIRE TONIGHT
07.0. CAN'T SLOW DOWN
07.1. T.V. ADDICTS
08.0. HARD CURRENCY
09.0. MOVE OUT
09.1. CP DRILL KKL
10.0. MIRRORSHADES
10.1. WE DON'T TAKE
11.0. HACK 1
11.1. CHARLIE X
12.0. IF ONLY
13.0. COME WITH ME
14.0. SLIPPING AWAY
14.1. HERE IS KAZMEYER


FRASES:

"...What makes 'Hack' such a fun surprise isn't so much pure energy as technological theft...."
Spin 2/91

"...Clever as the computer stuff is, where these guys really get brainy is in the songwriting...finding hooks in electronic abstractions like "R.I.P" or "CP Drill KKL" is pure genius...."
Musician 1/91, p.92