20 abril 2009


12 de junho
Gangrena Diário Ed. 24 A taça do mundo é nossa, mas a que custo?
Começa a copa. A tensão todo está cercando o ar, não se tem como negar esse fato. Ninguém por mais primitivo e insensível, deixa passar em branco essa época, jamais. Todos paramos em frente uma tela e ficamos extasiados com o giro daquele couro que desperta paixões extremas.
Mas existem duas verdades completamente diferentes à respeito da mesma bola. Uma verdade de uma sexta feira, e outra de um domingo, há exata uma semana atrás.
Sexta feira à noite, frio, um bar em Sorocaba. Bar do Argentino. Claudio o dono, com todas características que identificam a nacionalidade escancarada e estampada, não só em seu rosto, mas como também dentro do próprio bar. Fanático e apaixonado por futebol, com um conhecimento que leva horas e horas de boa conversa. Todos sentados, cerveja, futebol, discussão saudável, risadas e mais risadas dentro de uma bola terrestre que exacerbava o status de encontro de nações. Era como se não houvessem diferenças entre as línguas e crenças futebolísticas. Nem Pelé, nem Maradona, apenas paz e alegria de poder estar presente naquele momento aonde não havia, nem Irã, nem Bush, sem pretos e brancos, apenas amigos.
Naquele momento tive uma revelação quase mortal. Daquelas que te fazem acordar à noite gritando. Aquele momento poderia não estar acontecendo. Tive toda a impressão que aquela sexta feira foi apenas um sonho de John Lennon, ou era uma visão de Gandhi de como o mundo poderia ser. Quase ao olhar para fora do bar eu vi uma carapaça de ferro cercando todo o lugar.
Como era possível viver em um lugar aonde existia uma conversa como aquela que te faz sentir-se vivo ao extremo, e ao mesmo tempo, num mesmo país, uma vida é tirada sem razão, durante um passeio fortuito de carro, acaba com tiros, um morto, um estrupo psicológico e feito a fórceps numa família que vê seu filho talentoso morto, sem direito a nunca mais poder sentir-se vivo ao extremo.
Durante um domingo que não havia nada, parece que o mundo veio abaixo sem chance de poder segurar o teto de alguma maneira, É como descobrir a quantas anda a força do Tyson se ele te der um direto na boca do estômago. Um músico, provavelmente nem seja seu ídolo, nem meu, mas com certeza filho, neto, namorado, amigo de alguém. Numa simples avenida, como se levar um tiro fosse uma coisa simplesmente comum. Como ele, tantos outras pessoas mais comuns que o próprio Rodrigo, mas que acabam como ele, sendo privados de uma conversa de bar. Sendo retirados do jogo antes do fim do segundo tempo, quando o jogo está 1x1. Expulso sem cartão vermelho, apenas o sangue é, mais nada.
Até quando vamos viver nesse absurdo mundo de paradoxos de trem fantasma, aonde não estamos protegidos de nada, mesmo porque a premíscia básica seria não termos que nos proteger, a não ser das bactérias e germes. Hoje os vermes nos deixam em casa, quando não mortos. E quão grande são esses agentes patológicos do medo, bandidos com ou sem máscaras, armados ou com gravatas, fardados ou montados em pó. Somos atacados diariamente por viroses parlamentares e políticas que sugam todo nosso sistema de defesa, nos deixando sem ter a quem recorrer. Não há vacina contra a falta de moral que acontece com todas as nossas autoridades. Não há um plano B, não há capacidade de reação do povo quanto a falta de comida, educação e a pior de todas as faltas, a nossa total falta da capacidade de se indignar com as coisas. Sim, revoltado leitor, nosso ranço de cabeça, por aceitarmos tudo, sem buscar as coisas que nos retirarão enfim dessa jaula aonde estamos presos entre o leão e os tigres. Presos dentro de nossas casas, caçados dentro de nossos carros, alvejados como animais de safari. Discovery Channel é aqui, nem precisa de comercial temos 24 de programação. Suspense, drama humano e miséria, temos nossa própria Hollywood macabra.
Não é apenas o Rodrigo que morreu naquele carro, somos todos nós um pouco, mais um pouco. Morremos sempre que não conseguimos fazer nada para sair dessa crise infinita em que estamos. Sem buscar nossa própria saída, vai ser muito difíci achar a luz, sem votar direito, vamos ter que sempre ter algum bêbado, corrupto, ladrão, e assassino no comando do país. Sim são assassinos, pois roubar dinheiro do povo, é matar qualquer chance de educação, saúde, moradia, alimento e isso é assassinato em massa. Fala-se tanto dos nazistas, mas eles estavam dando a cara para bater (não que isso justifique as ações insanas deles ), e agora quem são nossos Mengueles e Adolfes ? Como saber qual dos ternos escondem as suásticas ? Quem é o bandido? Ou o ladrão ?
Por hora eu conheço apenas as vítimas, e são muitas.
É hora de copa, parece que sensação de torcer anestesia nossa capacidade de revolta, mas jamais ela deve ser amortecida.
Torcer sim, por que não adianta ser hipócrita e achar que não dá pra não se emocionar com uma coisa em que nosso país foi abençoado com tanto talento. A taça do mundo é nossa, mas quantos Rodrigos, Marias, Ronaldos deverão morrer para se poder mudar algo. Quantos copos num bar se pode encher com sangue das pessoas comuns para se perceber que é urgente a mudança e ela não pode esperar, anestesia da torcida não pode apagar nossa capacidade mudar esse destino de guerrilha em que vivemos. Para que sim, um dia possa existir em cada lugar um bar como aquele em que dois países sentavam à mesa e riam juntos como iguais. Sem armas, sem raiva, sem arma, apenas amizade.
Obrigado Claudio, espero ir ainda com a camiseta do Brasil de novo no seu bar, só que agora com uma estrela a mais.
Fique bem perto de Deus Rodrigo, seja uma sexta estrela e quem sabe você não sussurra no ouvido do mestre aí de cima para ele iluminar nossa capacidade de mudança, e trazer paz pra gente.
Fim............................................
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