07 de junho
Gangrena Diário Ed. 23 Os sem gravadora
Se você já teve a oportunidade de assistir um dos mais alucinados e anti-drogas filmes de todos os tempos que se chama Trainspotting, deve lembrar da cena em que o personagem que era o mais careta de todos e atleta toma um pé na bunda da namorada e vai passear com a galera pelas matas da Escócia. Nessa cena há um momento em que um dos personagens se revolta e diz que naquela terra não existe nem existirá nada, que são todos fodidos e mal pagos, e que a coisa nunca melhoraria, apenas seria mais e mais deprimente. Não sei se Irvine Welsh* queria retratar o que acontece de maneira geral por todo o continente europeu, essa ansiedade de sair do marasmo de certos pontos frios e isolados. mas com certeza há algo de melancólico em algumas bandas do velho continente.
Por isso começamos nossa seleção de bandas da semana com a melancolia em pessoa, a banda The Argonauts.
Os caras são de um lugar que confesso pela minha ignorância de proporções geográficas não sabia da existência. Um lugar chamado Stoke Newington, na Inglaterra. O bairro em questão, não é central na cidade de Londres, mas um bairro residencial mais afastado, que apesar disso reserva algumas surpresas como vários museus, galerias, passeios e igrejas para se conhecer. Mas a surpresa é que o bairro é melhor aproveitado no verão do que no inverno, e outra curiosidade, existem apenas alguns pubs e barzinhos com sons.
Mas espera um pouco aí, mochileiro, isso não é um blog de música? Qual é, mudou a pauta e nem avisou os desaviados leitores. Pura sacanagem.
Não, continuamos a mostrar sons, mas essa pequena explanação serve de pano de fundo para se entender melhor o som dos Argonauts.
Como são de um lugar que tem uma vocação, diremos assim, cultural por natureza, não espere sons marcados pelo peso. Nada de distorções ou rasgações pesadas no baixo, e se por acaso pensou em bateria sendo massacrada, pode esquecer. Essa banda tem uma vocação mais moderninha, menos roots e peso, mas intelectual - blasé.
Formado por Daniel Fell ( vamos então acertar que com um sobrenome desses a música não seria alegre mesmo!!! ), no baixo e vocal, Jimmy Eaton, nas guitarras, Liz Stot, na gaita, trompete e backing vocals, somando-se ao grupo Ben Handysides, na batera, os argonautas fazem um som devagar. Músicas calmas daquelas que dá pra dormir com elas ou dar um passeio sobre um cavalo na fazenda sem pestanejar. Muitas das músicas vão te lembrar um por do sol no inverno. Vocais afinadinhos e nada gritados, com uma boa base melódica nas guitarras. A bateria soa sempre como uma coadjuvante de luxo nas músicas, tamanho o tom minimalista dela, e sempre que a música se torna um pouco mais agitadinha ( Where I started ), aparece o trompete de Liz sem nenhuma super virada, mas faz do instrumento um peça importante para todo o clima da canção. Mas a música não é hit de pista de dança, é para bater pé, sem pretensão de nenhum mosh na platéia.
O som dos caras lembra muito sons mais para década de 60 e 50, um rock mais baseado naqueles salões de dança. Mas não deixa de se manter no presente, pelas letras melancólicas, e em algumas músicas você vai se lembrar da jovem guarda brasileira. Vale a pena se você se cansou de peso e quer relaxar com música boa.
Já falei por aqui que quando a banda tem um nome grande, sempre dou uma olhada a mais, e na maioria das vezes a banda é boa. Vide o caso do Clap Your Hands and Say Yeah!, e com essa banda não foi diferente.
The Pigeon Display Team ( e os nomes cada vez mais esquisitos ), os caras são de County Durham e na formação estão, Andy P. ( vocais e guitarra base ), Peter C. ( guitarra ) e Norm T. ( bateria ), dá pra ser mais excêntrico do que esse tipo de nome, espera e veja o som da banda.
Um pouco mais rock que nossos amigos argonautas, as guitarras aparecem em riffs mais pesados, mas não menos grudentos ( Xmas in Falluja, Milkbottles ), fazendo você lembrar que o rock pode e deve colocar seu esqueleto para mexer.Você de cara vai lembrar dos Talking Heads, mais pela levada das músicas do que pelas maluquices que o David Byrne fazia. O vocal tem um certo soturnismo parecido com o Ian Curtis**, mas as músicas são menos melancólicas. Bateria seca, que muitas vezes lembra o primeiro disco dos Strokes, mas as viradas estão para mudar o andamento da música e dar novos ares as composições. O baixo apenas marca. Com um excelente senso de pop, não tem como você não ser capturado pelos riffs desses caras. Dar para cantar junto mesmo.
Saindo das cinzas tardes londrinas, para a reluzente Las Vegas. Para que acha que lá é apenas lugar de clones do Elvis e casamentos feitos após porres homéricos, essa banda é uma boa surpresa.
The Vinyl Clouds, com Warren Duprey, nas guitarras e vocais, Kurt Hackman, no baixo e Johnny Fedevich na batera, fazem um som com distorção, mas sem perder as cores da cidade natal da banda. Refrões grudentos, numa levada bem novaiorquina de se fazer rock. Pode ter certeza essa molecada escutou os Stooges, e fazem bem a lição de casa.
Com uma guitarra que as vezes é bem suja, outras prefere se posicionar mais em viajens meso psicodélicas meso pop, o ritmo das músicas é sempre rápido e faz com que os outros instrumentos trabalhem para tudo se tornar uma boa trilha sonora para colocar no carro num dia de sol. Te lembra muito coisas realizadas pelas bandas dessa nova década, mas sem perder o vigor do rock dos anos 90. Sempre na formação clássica do trio, mas com um espaço para um teclado bem colocado para deixar aflorar na banda seu lado mais pop. Poderia ser apenas mais uma bandinha, mas The Vinyl Clouds vai além.
Um detalhe importante, nenhuma dessas bandas tem sequer gravadora.
* autor do livro daonde saiu o filme homônimo, e diga-se de passagem se puder ler o novo livro do cara ( Pornô ), leia é muito bom
** vocalista do Joy Division.
Escrito ouvindo as bandas citadas.
P.S.: para aqueles que não acreditam e para nossa felicidade, se vocês acompanham nossas matérias devem já ter lido sobre bandas como Wolfmother e The Zutons, já escritas por mim aqui nesse espaço. E não é que o Wolmother é uma das mais novas sensações lá na gringa, e se você puder ir ao site da MTV, verá que os The Zutons estão como banda nova sendo apresentada por eles. Estamos no caminho certo, desculpa aí descrentes.
Gangrena Diário Ed. 23 Os sem gravadora
Se você já teve a oportunidade de assistir um dos mais alucinados e anti-drogas filmes de todos os tempos que se chama Trainspotting, deve lembrar da cena em que o personagem que era o mais careta de todos e atleta toma um pé na bunda da namorada e vai passear com a galera pelas matas da Escócia. Nessa cena há um momento em que um dos personagens se revolta e diz que naquela terra não existe nem existirá nada, que são todos fodidos e mal pagos, e que a coisa nunca melhoraria, apenas seria mais e mais deprimente. Não sei se Irvine Welsh* queria retratar o que acontece de maneira geral por todo o continente europeu, essa ansiedade de sair do marasmo de certos pontos frios e isolados. mas com certeza há algo de melancólico em algumas bandas do velho continente.
Por isso começamos nossa seleção de bandas da semana com a melancolia em pessoa, a banda The Argonauts.
Os caras são de um lugar que confesso pela minha ignorância de proporções geográficas não sabia da existência. Um lugar chamado Stoke Newington, na Inglaterra. O bairro em questão, não é central na cidade de Londres, mas um bairro residencial mais afastado, que apesar disso reserva algumas surpresas como vários museus, galerias, passeios e igrejas para se conhecer. Mas a surpresa é que o bairro é melhor aproveitado no verão do que no inverno, e outra curiosidade, existem apenas alguns pubs e barzinhos com sons.
Mas espera um pouco aí, mochileiro, isso não é um blog de música? Qual é, mudou a pauta e nem avisou os desaviados leitores. Pura sacanagem.
Não, continuamos a mostrar sons, mas essa pequena explanação serve de pano de fundo para se entender melhor o som dos Argonauts.
Como são de um lugar que tem uma vocação, diremos assim, cultural por natureza, não espere sons marcados pelo peso. Nada de distorções ou rasgações pesadas no baixo, e se por acaso pensou em bateria sendo massacrada, pode esquecer. Essa banda tem uma vocação mais moderninha, menos roots e peso, mas intelectual - blasé.
Formado por Daniel Fell ( vamos então acertar que com um sobrenome desses a música não seria alegre mesmo!!! ), no baixo e vocal, Jimmy Eaton, nas guitarras, Liz Stot, na gaita, trompete e backing vocals, somando-se ao grupo Ben Handysides, na batera, os argonautas fazem um som devagar. Músicas calmas daquelas que dá pra dormir com elas ou dar um passeio sobre um cavalo na fazenda sem pestanejar. Muitas das músicas vão te lembrar um por do sol no inverno. Vocais afinadinhos e nada gritados, com uma boa base melódica nas guitarras. A bateria soa sempre como uma coadjuvante de luxo nas músicas, tamanho o tom minimalista dela, e sempre que a música se torna um pouco mais agitadinha ( Where I started ), aparece o trompete de Liz sem nenhuma super virada, mas faz do instrumento um peça importante para todo o clima da canção. Mas a música não é hit de pista de dança, é para bater pé, sem pretensão de nenhum mosh na platéia.
O som dos caras lembra muito sons mais para década de 60 e 50, um rock mais baseado naqueles salões de dança. Mas não deixa de se manter no presente, pelas letras melancólicas, e em algumas músicas você vai se lembrar da jovem guarda brasileira. Vale a pena se você se cansou de peso e quer relaxar com música boa.
Já falei por aqui que quando a banda tem um nome grande, sempre dou uma olhada a mais, e na maioria das vezes a banda é boa. Vide o caso do Clap Your Hands and Say Yeah!, e com essa banda não foi diferente.
The Pigeon Display Team ( e os nomes cada vez mais esquisitos ), os caras são de County Durham e na formação estão, Andy P. ( vocais e guitarra base ), Peter C. ( guitarra ) e Norm T. ( bateria ), dá pra ser mais excêntrico do que esse tipo de nome, espera e veja o som da banda.
Um pouco mais rock que nossos amigos argonautas, as guitarras aparecem em riffs mais pesados, mas não menos grudentos ( Xmas in Falluja, Milkbottles ), fazendo você lembrar que o rock pode e deve colocar seu esqueleto para mexer.Você de cara vai lembrar dos Talking Heads, mais pela levada das músicas do que pelas maluquices que o David Byrne fazia. O vocal tem um certo soturnismo parecido com o Ian Curtis**, mas as músicas são menos melancólicas. Bateria seca, que muitas vezes lembra o primeiro disco dos Strokes, mas as viradas estão para mudar o andamento da música e dar novos ares as composições. O baixo apenas marca. Com um excelente senso de pop, não tem como você não ser capturado pelos riffs desses caras. Dar para cantar junto mesmo.
Saindo das cinzas tardes londrinas, para a reluzente Las Vegas. Para que acha que lá é apenas lugar de clones do Elvis e casamentos feitos após porres homéricos, essa banda é uma boa surpresa.
The Vinyl Clouds, com Warren Duprey, nas guitarras e vocais, Kurt Hackman, no baixo e Johnny Fedevich na batera, fazem um som com distorção, mas sem perder as cores da cidade natal da banda. Refrões grudentos, numa levada bem novaiorquina de se fazer rock. Pode ter certeza essa molecada escutou os Stooges, e fazem bem a lição de casa.
Com uma guitarra que as vezes é bem suja, outras prefere se posicionar mais em viajens meso psicodélicas meso pop, o ritmo das músicas é sempre rápido e faz com que os outros instrumentos trabalhem para tudo se tornar uma boa trilha sonora para colocar no carro num dia de sol. Te lembra muito coisas realizadas pelas bandas dessa nova década, mas sem perder o vigor do rock dos anos 90. Sempre na formação clássica do trio, mas com um espaço para um teclado bem colocado para deixar aflorar na banda seu lado mais pop. Poderia ser apenas mais uma bandinha, mas The Vinyl Clouds vai além.
Um detalhe importante, nenhuma dessas bandas tem sequer gravadora.
* autor do livro daonde saiu o filme homônimo, e diga-se de passagem se puder ler o novo livro do cara ( Pornô ), leia é muito bom
** vocalista do Joy Division.
Escrito ouvindo as bandas citadas.
P.S.: para aqueles que não acreditam e para nossa felicidade, se vocês acompanham nossas matérias devem já ter lido sobre bandas como Wolfmother e The Zutons, já escritas por mim aqui nesse espaço. E não é que o Wolmother é uma das mais novas sensações lá na gringa, e se você puder ir ao site da MTV, verá que os The Zutons estão como banda nova sendo apresentada por eles. Estamos no caminho certo, desculpa aí descrentes.
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