Existem dias aonde você acorda e não quer levantar....seus olhos pesam duas toneladas de maracatú atômico e eles não vão à lugar nenhum a não ser no canto do pé direito de seu quarto........aonde uma aranha estranhamente desenha um calabouço........pra moscas desavisadas.......
Tem dias em que você não passa de um personagem de Perec , um homem que dorme.......sua simples vontade não passa de marasmo...e desespero.....nesses dias.....e são sempre nesses dias aonde o céu cinza se abre mostrando à você um emaranhado de relâmpagos e nuvens negras......e é assim com a tempestade que a vida começa.......no alcance de todos os trovões você é capaz de perceber que sua vontade é mais penitente do que um dia de fúria......
E as músicas que te seguem nesse dia, são assim......gritos de misericórdia.......estripados de dentro de uma carcaça estranhamente familiar, a sua pele cinza.....a sua pele dissecada ao sol....ou fungiciada pela falta dele...........Essas músicas são sombrias...e são envolventes e de nada gratuítas.
Pois bem hoje sai na Inglatera e amanhã sai nos USA esse disco aqui:
Que é o já falado nesse blog projeto de Jack White, a banda THE DEAD WEATHER, formada por o próprio homem de cera do rock, VV do The Kills nos vocais, o baixista do Racounteurs e o guitarrista que participa do Queens of The Stone Age (Jack Lawrence e Dean Fertita respectivamente). A banda tem seu álbum de estréia HOREHOUND nessa ultima semana circulando nos torrents da vida e oficialmente pelo selo criado por Jack White , THIRD MAN, essa semana.
Vamos então por partes:
O disco tem essa capa aí toda meio que num tom de musgo e preto, e não é acidental a escolha dessas cores. Por todo o disco você é capaz de sentir a umidade fluir, como se você estivesse dentro de algum bar imundo que serve de moradia para aquela umidade seca de mangue. Aonde o calor do ar te faz produzir litros de sudorese inimaginávies, e a secura da boca arrasta seus lábios para dentro formando pequenas peles secas ao redor deles e em cada acorde elas se rasgam expondo seu sangue..........
60 FEET TALL dá início aos trabalhos com uma gama de ruídos e rufares de tambores e um crescente de blues e batidas das paquetas desordenadamente. A primeira pele seca da tua boca sai nos primeiros acordes da voz de VV (eu já volto a falar da voz dela.....um minuto...), que corta sua garganta impiedosamente. O disco inteiro é marcado por esse clima de blues velho, coisa que os Racounteurs já haviam feito no segundo disco. Mas o TDW leva isso para um lugar mais sombrio, mais no recanto escondido do seu sistema límbico. E isso fica claro no single HANG YOU UP TO THE HEAVENS, é pesado e desconcertadamente quebrado, muito pela bateria de Jack White (sim ele é o baterista da banda, o primeiro instrumento que aprendeu a tocar) que tem viradas simples mas genialmente bem colocadas. Mas o pesado mesmo dessa faixa é sem dúvida de Fertita e Lawrence uma cozinha que faria Lucifer sentir vergonha de chamar sua casa de inferno.........confere aí.....
Mas não é apenas o blues que se propõe a ser pano de fundo dessa nova banda. O funk aparece forte em I CUT LIKE A BUFFALO. Os vocais duplicadas de Jack e VV fazem com ela seja mais que música...seja uma dança pagã......regada à um Hammond pesado demais. Lembra muito as músicas do Kills, pela dinâmica meio pornô meio freira do casal cantante, mas nem por isso descartável.......I love like a woman...but I cut like a buffalo, quer mais?????????
SO FAR FROM YOUR WEAPON e TREAT LIKE YOUR MOTHER são feitas apenas pra mostrar a capacidade da vocalista de interpretar coisas diferentes, sejam elas baladinhas assombrosas ou uma música mais pop, nada formal no jeito de ser tocada, com se fosse uma big band dos anos 60 somada a uma banda de heavy metal. E tem mais uma coisa, VV cantando gemidamente medida I just like your mother faz você ter certeza que Édipo mora na sua casa e reflete o rosto no espelho toda a vez que você olha para ele. ROCKIN HOUSE e NEW PONY, são novamente blues rasgados e estariam em qualquer disco dos White Stripes, e você até poderia dizer que não acrescentam em nada no disco, mas em um mundo aonde a volta de bandas dos anos 90 são a tônica essas músicas são sopros de vida.
BONES HOUSE, é soturna demais para ser deixada de lado. Tem todo um lado eletrônico que deixa tudo parecido com aqueles filmes de terror aonde vampiras lésbicas atacam jovens seminaristas virgens. E é aqui aonde eu volto a voz de Allison Moshart.
Que ela é a menina mais punk de todo o mundo indie todo mundo já sabe, que ela desperta desejos maternias e desenfreados nos marmanjos de all star estamos carecas de saber. O que você não sabe, meu leitor salivante, é que ela usa meias vermelhas, e que isso faz dela uma deusa entre ratos. A voz dela é capaz de cometer latrocínios e nesse disco ela não apenas canta. Dá a medida de cada nota solta pelos três mosqueteiros, cria climas inimagináveis e é o diferencial de tudo. No Kills às vezes ela fica meio que presa a genialidade de Hotel, mas aqui ela está mais completa, está mais inteira...está usando meias vermelhas.
A instrumental korniana 3 BIRDS poderia ter sido colocada fechando o disco, porque quebra demais o clima todo, seria mais bem aproveitada com lado B não lançado.
NO HASSLE NIGHT continua no mesmo clima soturno bluesiro do disco, mas é a canção final WILL BE THERE ENOUGH WATER? que faz com que o próprio disco responda a pergunta. Na verdade a água virá de toda a umidade seca que esses três cavaleiros do apocalipse mais a dama de ferro trarão para e cena.
Discos assim são capazes de tornar seu dia muito mais cinza ainda, mas quem disse que não há beleza em cores como essa e meias vermelhas.........
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Um comentário:
Acordar e não querer levantar é muito mais do que aquilo que a maioria chama de lar... vivendo sem jamais terem se levantado... sem jamais terem sido acordadas...
Gostei do video...=*
fike bem, ser.
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