22 maio 2009

GD 44.......ALEGRIA ALEGRIA.....OS NOSSOS JUSTOS ARTISTAS.....

Você julga as pessoas?
Quando você vê alguém vestindo algo que jamais usaria você cria juízos sobre ela?
Quando alguém fala que não gosta de Arctic Monkeys, The Killers, Interpol, você começa a definir que essa pessoa é uma daquelas que não tem muitas qualidades????
Qual é a sua noção de qualificar os transeuntes diários que passam por você no metrô, no ônibus, no assalto. Qual a sua medida para julgar os outros , se é que você julga alguém.......
O porque dessas questões é que nesse sábado finalmente assiti a esse filme aqui:
, e ele fala sobre essa questão.
E essa é apenas uma questão dentre milhares que esse documento, obrigatório, levanta.
Todo mundo está careca de saber que o filme conta a história de Wilson "alegria, alegria" Simonal, cantor que teve a "coragem", de num país aonde brancos bem nascidos eram os donos da cultura nacional, com suas bossas, fazer com que uma população inteira se rendesse ao maior cantor que este país já teve. Um cara que não sabia falar uma única palavra em inglês, mas cantava com se tivesse nascido no Harlem americano. Que fez do suingue uma arma poderosa de carisma e talento. O primeiro show man nacional no mais amplo contexto da palavra.
Essa babação ovo, poderia até ter sido a tônica do filme. Porque a história de Simona , uma luta para sair da pobreza e conseguir tudo aquilo que podia para uma vida melhor, num país capitalista, já é disneyniana o suficiente. E é por isso que a primeira metade do filme te agarra de uma tal maneira que você não desgruda os olhos da tela. Dificilmente um documentário te prende desse jeito. A levada dos diretores tem o mesmo suíngue e malemolência de Simonal. As histórias todas e as imagens são muito boas. Vale a pena citar as cenas da concentração da copa de 1970, aonde Simonal era uma espécie de amuleto entre os jogadores, que mostram os reis negros se encontrando (ele e Pelé).
Do mesmo jeito que ouvir o dueto completo de Sarah Vaughan e Simonal é talvez a cena mais emocionante, daquelas de te fazer chorar silenciosamente toda a vez que você vê.



E assim o filme segue cativando a cada nota que sai da boca de Simonal, os depoimentos são emocionantes e é como assitir uma cena de qualquer clássico do cinema. Elas começam calmas e terminam numa arrebentação de emoções. Nesse aspecto o filme é sensacional e não deixa dúvidas sobre o talento do trio de diretores.
Mas o filme te leva da alegria extrema a maior de todas as depressões (eu sai do cinema com a impressão de ter levado um soco no estômago), porque quando você acha que finalmente Mickey vai abençoar esse conto de fadas sobre um príncipe negro, as coisas se complicam e muito. E é nesse ponto que o filme perde a vocação de se tornar um clássico.
A história de que Simonal havia contratado policiais do DOPS (que era o orgão de repressão dos militares) para dar uma surra em um contador que o estava roubando é o estopim de tudo.
Nosso pa-tro-pi vivia num tempo bravo. Radicalismo, extremismo, comunismo, e mais um monte de ismos faziam com que qualquer trac se torna-se uma salva de doze tiros de canhão.
E quer melhor trac que um cara que andava para cima e para baixo ostentando tudo o que ganhava, que gostava de aparecer e dizer que era bom mesmo (e era o melhor de verdade, ou você acha que reger uma orquestra de 30.000 vozes e fazer delas o que quer é para qualquer um?????). Nada melhor que um cara que deu início há um movimento que se tornaria caminho para os cantores depois, ser a bola da vez.
Não cabe aqui inciar um juri popular para saber qual é a culpa de Simonal, mesmo porque essa não é intenção do filme.
A grande sacada de acharem o suposto contador e de entrevista-lo dá credibilidade de isenção, o que faz o espectador pensar de quem é a culpa nisso. As opiniões sobre a inocência, culpa, ingenuidade, malandragem ou se ele era informante dos militares ficam por conta das pessoas que assistem. Afinal de contas documentário é para pensarmos e não para torcermos (mas porque não torcer????).
Mas é nessa isenção que reside o maior pecado do filme.
Ele se limita demais na apuração dos fatos. Mostra o lado do contador, que sofre a lesão corporal, os flhos e amigos de Simonal, a rede Globo que liderava o boicote televisivo ao cantor, Ziraldo e Jaguar os cartunistas do Pasquim que publicamente crucificavam Simonal. Aliás a cena que mostra a tira aonde o final de Wilson seria o suicídio é repugnante demais.
Mas mostrar apenas a versão de todo mundo para os fatos não é suficiente do mesmo jeito que todos os detratores do cantor, era necessário tomar um partido porque afinal de contas é sim uma história pessoal demais para ser apenas contada.
E é pessoal, quando vemos o calvário que se tornou a vida do cantor depois da acusação de delator (algo que acredito nunca ter sido). Testemunhar que o esquecimento se tornou solidão, que se tornou alcoolismo, que se tornou reclusão. Um exílio forçado maior do que aquele dado a Caetano que passeou por Londres........e qualquer música sobre os caracóis dos cabelos de Simonal não faria passar essa tristeza.
É nessa parte que o filme se torno soturno, ver a vida de uma pessoa que era antes de tudo um grande humanista se despedaçando, é no mínimo ruim.
E é nessa parte que fica claro a maior tristeza de se morar no Pa-tro-pi.....é perceber que a imprensa e os artístas da dita classe pensante desse país, é simplesmente a mais burra de todas...............
Nunca gostei muito de mpb.
Para ser mais sincero ainda houve épocas na minha vida que eu odiava, mas aí eu descobri Cartola, Pixinguinha, Tom Zé, Naná Vasconcellos e percebi que meu sunitismo não era tão sunita assim. Mas mesmo assim eu nunca fui muito baba ovo dos medalhões como Caetano Velloso ou Gilberto Gil, e as caras novas realmente não me dizem nada......mas gosto é como aquele famoso orifício cada um tem o seu....
O que mais me irrita na tal música popular brasileira é que ela não é popular, nem nunca foi. A bossa nova não foi um movimento de massa, eram pessoas bem nascidas, e bastou o Stan Getz gravar Jazz Samba e já poderia até ter mudado o nome para MEB (música da elite brasileira). Vai dizer pra mim que o João Gilberto já foi porteiro de prédio......morou em favela......essas coisas.
Não se discute a qualidade de nada, porque se caras como Tom Jobim, Vinícius de Moraes entre outros são considerados gênios por todo um mundo musical, não seria um ignorante como eu que iria chamar os caras de burros. Mas, a música deles é jantar para intelectual do Espaço Unibanco, aqueles tipos que sentam em rodas com caras blasé dizendo que amaram o Godard, por causa do seu virtuosismo e entre outros adjetivos aurelianos e não sabem lhufas do que o cara quis dizer. E vamos dizer ,quem é que consegue assistir à um filme de Godard sem dar uma meia bocejada........
E essa mesma casta de pessoas ditas formadoras de opinião e responsáveis pela cultura brasileira na época pegaram um boato, transformaram em notícia depois em acusação, depois em julgamento e em condenação. Tudo isso feito na luz do dia e partindo de quem tem por dever apurar os fato e descobrir a verdade a fundo. A imprensa.
E que não me venha o Jaguar e o Ziraldo dizerem que a culpa não era deles também, por que afinal de contas quem atira a pedra é também culpado por manter a história. E o que mais me espanta é que como pode um senhor que escreve estórias em quadrinhos aonde o personagem principal é um menino que é sensível, esperto, justo.....pode ser criação de uma pessoa tão brutalmente injusta.
E é engraçado ver que o justificativa foi de que tempos extremos requerem medidas extremas. Mas desde quando nossos intelectuais de carteirinha foram assim tão extremistas. Quem da esquerda brasileira detonou uma bomba no DOPS?? Quem matou algum general do exército?? Quem tentou matar o presidente??? Quem é que chegou a esse extremo??? Essas sim medidas extremistas e talvez necessárias para nossos paladinos da justiça moral na época da ditadura.
Sequestraram um americano e todo mundo sabe como acabou isso, com o Gabeira se desculpando por gastar dinheiro público anos mais tarde......
Então quem é que pode julgar e condenar alguém por algo que nunca foi provado???? Eu, você ou o Ziraldo?????
Mas as discussões sobre o quanto a nossa imprensa e a do mundo é extremamente sensacionalista e culpada vão longe........o que importa mesmo é saber que o filme é um documento fundamental pra se entender quem é que faz a sua cabeça nos meios de comunicação, e que devemos sim estar atentos a tudo que se escreve ou se faz na televisão. Barbosas e Simonais podem aparecer a qualquer minuto.
A alegria é saber que finalmente se prestou tributo ao maior cantor do Brasil......e a frase do Miéle resume tudo..."e se não foi ele ,foi quem?????"





Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei(Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, Brasil, 2008)
Gênero: Documentário
Duração: 86 min.
Tipo: Longa-metragem / Colorido
Distribuidora(s): Moviemobz
Produtora(s): TV Zero, Zoar, Jaya, Globo Filmes
Diretor(es): Cláudio Manoel, Micael Langer, Calvito Leal
Roteirista(s): Cláudio Manoel
Elenco: Wilson Simonal, Roberto Carlos (3), Sarah Vaughan, Ronaldo Boscoli, Chico Anysio, Luís Carlos Miele, Ziraldo, Nelson Motta

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