15 junho 2009

GD 47...A SAGA DOS DISCOS ESQUECIDOS CAPÍTULO II

"I can´t get enough of it...kiss me with Apocalypse...an instant hit......"




Confesso.....sim estou viciado em jogos de videogame com Legos.......não tem mais volta. Vou fundar um L.A. logo. Tenho crises de abstinência pesadíssimas, com direito à alucinações e tudo que se tem direito no reino encantado de Christiane F. Não sei se foi pelas piadas pastelões, pelas infintas possibilidades de se jogar durante horas a fio...só sei que foi assim......joguei, viciei.....e ainda fica a dica.....que tal um Lego Trabalhões ou Chaves...ia ser hilário ver o Seu Madruga se despedaçando a cada tapa de Ms. Florinda.......com direito a barulhinho de briquedo "quebrandis"..........
Mas qual a relação da tecnologia viciante com esse disco?
Simples meu caro Zacarias......tanto um quanto o outro abrem infinitas possibilidades de interpretação.E ambos são viciantes.......
Parece até covardia escrever sobre algo que é notoriamente discutido entre as rodas pseudo muderninhas como obra prima, mas nesse caso talvez seja para desfazer uma outra notória errata do mundo da música. De que Amnesiac é uma sobra de estúdio mal acabada de Kid A. Mesmo porque já é difícil achar quem goste realmente de Radiohead, ainda mais que goste da fase quero me despedaçar por ter feito OK Computer e me esconder do mundo pela qual passou Tom Yorke e associados.....
Mas existe um porém em tudo isso. Todos os grandes artistas quando entram nessa fase de ligar o foda-se para tudo e fazer exatamente o que querem, conseguem transcender o mais do mesmo e a melhor parte é que eles te levam junto, foi assim com In Utero (Nirvana), Highway 65 Revisited (Bob Dylan) ou até o antológico Album Branco dos Beatles.
Pois bem a primeira coisa e talvez a mais importante de Amnesiac é que ele é um grande foda-se.......
OK Computer tinha lançado a banda numa espiral de salvação do rock, deuses fenderianos eles eram a maior banda do mundo, e aí já viu...quando todo mundo gosta, alguma coisa de errado tem.........então o que é que a gente faz? Liga o foda-se.......
Tudo começa com Kid A, o disco que foi lançado antes, mas foi gravado junto com Amnesiac. Tinha todo um lado eletrônico , sombrio e lírico violento, mas ele descia bem demais. A beleza era explícita, o jazz estava lá mas estava escondido demais. A sátira ao sucesso também, era necessário que a palavra F fosse um pouco maior....e assim se fez......
Lançado depois de alguns meses de Kid A, Amnesiac foi recebido como um trabalho de lados B bem feito pela crítica e os fans da banda acharam estranho ao extremo (a maior discussão era se o disco era uma obra prima ou uma merda total). Mas é aí que se encaixa toda a dramaticidade e beleza desse disco, ele não foi feito pra ser rotulado foi feito para ser sentido........
E começa com o título mais que claustrofóbico: Pack Like Sardiness In a Cushed Tin Box. E não é nada mais que música de pista de dança, fora o baixo marcado e descompassado ao extremo e uma guitarra ao fundo o resto são sintetizadores, baterias eletrônicas e uma voz doce que fala sobre enclausuramento e liberdade, e a partir daí você já sabe que será levado ao extremo (I´m a reasonable man, get off my cage.....). São sons tribais e crescentes, é como se sentar numa noite fria dentro de uma floresta......e é apenas o início......
Toda vez que eu escuto Pyramid Song, eu tenho mais certeza que toda boa banda de rock deveria uma vez na vida enveredar por qualquer estilo de jazz......porque o descompasso que ele tem é muito bom para saúde de qualquer rock tradicional (você já ouviu falar de uma banda boazinha chamada Sonic Youth??????), ainda mais se for feito numa linha do gênero medieval como pede a letra da música. E se você gosta de assuntos energéticos, a figura da pirâmide quando vista em técnicas de Reike tem muito a ver com conhecimento e a letra nada mais é que isso, uma visão do passado e do futuro regada por carros astrais, ou simplesmente a música mais linda feita sobre suicídio. Quer dizer então que esses caras eram a maior banda do mundo na época, fazendo esse tipo de disco????
Não só eram como ainda são.......cacildis!!!!!!!!
E tome mais foda-se. A complicada Pulk/Pull Revolving Doors é a mais difícil de todo o álbum, o eletrônico é industrial demais como se fosse uma britadeira martelando as portas e as descrevendo ao mesmo tempo, para te mostrar que atrás de cada uma pode ter uma armadilha. Era a resposta a todos aqueles críticos de botique que torceram o nariz pra Pablo Honey e depois os endeusaram.....sem mencionar o fato de que várias bandas eletrônicas mais pesadas ainda hoje fazem muita coisa baseada nessa música. Se Kid A era uma pergunta sobre o que se fazer com a eletrônica no rock, essa música é a resposta mais crua e pesada possível.....
A torturante You and Whose Army é uma crítica mais do que ferrenha à Tony Blair o primeiro ministro da Inglaterra, e começa como se você escuatasse um preso político com a voz abafada por sofrer tantos choques e sem os dentes (arrancados na maratona da morte.....), e de repente o torturado se torna algoz, tudo isso com uma sutileza amedontradora e num compasso lento o que torna essa a música mais assustadora do disco todo (e talvez a mais forte......). É um lindo grito abafado pelo cansaço, mas forte demais para não ser ouvido......
Escute I Might Be Wrong em um começo de noite numa avenida movimentada de qualquer cidade, você nunca viu uma música que se mistura de maneira tão concreta com carros, pessoas, tráfego, sinais,buzinas. Cada cena no canto do teu olho vai se tornar um quadro diferente em cada acorde, uma música soturna sobre amor........
Knives Out, é uma das poucas músicas do disco em que a estrututa é mantida até o fim, mas nem por isso deixa de ser descompassada e atordoante. Com uma melodia simples mas de uma beleza estonteante pode ser também interpretada de várias formas...e eu prefiro à que diz respeito ao canibalismo ( "So knives out, cook him up, squash his head, put in the pot......). Reza a lenda que a simplicidade dela tomou quase um ano da banda para termina-la......
Amnesiac, não é um disco fácil, é tudo muito desconexo e descompassado. As músicas não são colocadas em uma ordem lógica, não estão lá para se contar uma história em sequência e muito menos explicar qualquer coisa. E todas elas não seguem em nada o que se faz no rock, em 2000 ou em 2009. Não há refrão marcante, não existe uma linha normal de tempo nas músicas. Na contra capa do disco tem um aviso que diz: guarde longe da luz direta, preferencialmente numa gaveta escura com seus segredos. E é isso que a sequência Amnesiacthe Morning Bell (uma regravação da música de mesmo nome de Kid A muito mais simples e linda), Dollars and Cents, Hunting Bears e Spinning Plates. Tudo muito instrumental desconexo com vozes sussurrando as letras (quando elas existem....). São lembranças que devem ser trancadas e que te calam mais fundo na alma do que qualquer outra.
E quando você acha que vai sucumbir nesse turbilhão desconexo em que a banda te arrastou, o jazz (e não tem outro adjetivo que cabe aqui a não ser esse.....) de Life In The Glass House é como tomar um tiro à queima roupa. O clima crescente da música (inclusive crédito esse dado pelo próprio Radiohead) imprimido Humphrey Lyttelton (80 anos na época) e sua banda, é de cortar os pulsos com faquinha de bolo Pulmman (como diria uma amiga.....). É a despedida redentora de um disco que limpa tua alma em todas as audições. E a partir dessa música é que você começa a entender de onde veio a inspiração para todos os metais nas músicas dos Los Hermanos.
Hail to The Thief o disco seguinte, foi uma volta no meio do caminho às guitrarras, mas não havia nada mais a ser feito, o Radiohead havia mudado a forma de se ver o rock de uma vez por todas com Amnesiac e depois de nove anos o álbum continua atual e desconcertante, uma navalha hanzoniana sem limites de corte.........

FRASES:

"A razão pela qual fizemos estes dois discos foi para mostrar que qualquer coisa é possível, mesmo quando tudo é esperado. A última coisa que queríamos fazer era entrar em estúdio e fazer outra versão de OK Computer (o elogiado antecessor de Kid A). Meu melhor palpite para o próximo disco é que ele será uma combinação de Amnesiac com mais guitarras. Tentamos não insultar ou chatear a inteligência de nosso público, porque estamos cientes que o gosto dele está se movimentando, assim como nossa música e é excitante ser uma parte disso".

Collin Greenwood. (Sobre Amnesiac e o futuro na NME)

FICHA:

Album: Amnesiac.
Gravado: entre janeiro de 1999 e dezembro de 2000
Lançado: 04 de junho de 2001
Gravadora: Pharlophone/Capitol
Produção: Radiohead e Nigel Godrich

FAIXAS:
01) Packt Like Sardines In A Crushed Tin Box.........4:00
02) Pyramid Song..........................................................4:49
03) Pulk/Pull Revolving Dorrs.....................................4:07
04) You And Whose Army?..........................................3:11
05) I Might Be Wrong...................................................4:54
06) Knives Out..............................................................4:15
07) Mornig Bell..............................................................3:14
08) Dollars And Cents..................................................4:52
09) Hunting Bears........................................................2:01
10) Like Spinning Plates..............................................3:57
11) Life In a Houseglass...............................................4:53

A BANDA:

Tom Yorke (guitarras e vocais)
Collin Greenwood (baixo)
Jonny Greenwood (guitarras, sintetizadores e teclados)
Phil Selway (bateria)
Ed O´Brien (guitarras)

GD 47......IDIOTHEQUE...........

Women and children first.....women and children first......I´ll laugh till my head comes off......this is really hapening....happening......TAKE YOUR MONEY AND RUN TAKE YOUR MONEY........



"O cinismo é a única forma sob a qual as almas vulgares se aproximam do que seja a honestidade.E o homem superior terá os ouvidos atentos para todo o cinismo grosseiro ou sutil e se felicitará toda vez que um bufão sem pudor ou sátiro da ciência prosear diante dele." (Friedrich Nietzsche)